Baptuba, uau uau uau uau uau!

Baptuba, uau uau uau uau uau!

Não estou delirando. Isto é uma frase, e ainda faz parte de um refrão da Música de Eduardo Dussek. Cantor e compositor dos anos setentas que em vez em quando aparece ainda hoje na mídia. Na época suas composições buscavam aliar sátira e bom humor. Mas foi em 1982 que fez sucesso com algumas canções e entre elas o Rock da Cachorra.

A intenção deste editorial não é comentar sobre a vida deste cantor e compositor. Eu lembrei desta música por conta de uma notícia que vinculou em todos os jornais de Campinas a quase dois anos, com a história do vira-lata Bob (um apelido do vernáculo inglês para o nome Robert). No Cambuí, um bairro nobre da cidade e badalado pelo estilo de vida dos seus moradores, a Secretaria Municipal da Saúde de Campinas, decretou que este animal, seja removido da praça, onde é a sua moradia há nove anos desde que chegou como um filhote. O cão virou um xodó dos moradores e tem tratamento vip (very important “person”): além da carteira de vacinação em dia, Bob toma banho em pet shop e dorme no apartamento de uma moradora, com edredom, caminha e etc. O reinado de Bob no Largo Santa Cruz começou a ser ameaçado há quatro meses, quando mordeu uma pessoa que passava próximo ao ponto de táxi. Toda vez que utilizo um táxi deste ponto, o meu assunto com os taxistas é sobre o Bob. Sempre contam histórias e peripécias que tal cachorro faz como se fosse um filho de cada um deles.

Talvez esteja escrevendo com certa ironia este texto. Até parecendo que eu não goste de cachorros. Mas isso não é verdade. Eu também tenho um da raça “viralatê” (vira lata mesmo) e todos nós lá de casa gostamos muito dela. Vive conosco a mais de dez anos. O nome dela: Zigfrida, e a chamamos por Frida. A minha família, meus pais, irmãos e tios, são muito afeiçoados por estes animais. Um dia eu acompanhei uma oração que meu pai em um dado momento pediu em favor dos seus animais, o que me chamou atenção. Porém, compreendi pois ele colocava-se como alguém criado por Deus para cuidar das Suas criaturas. Deus fez toda a natureza para que o ser humano tivesse domínio sobre ela, conforme o Salmo 8.5a-6a diz o seguinte: “[…] fizeste o ser humano inferior somente a ti mesmo […] e lhe deste poder sobre tudo o que criaste;” O salmista provavelmente esteja se baseando no texto da criação em Genesis 1.26 onde Deus criou o homem e mulher a sua imagem com a tarefa de ter domínio sobre todos os animais da terra, inclusive os domésticos. Este propósito de Deus perdura até hoje. O que Deus faz sempre é bom. O problema está nos exageros e na mudança de sentido que o ser humano dá a esta ordem.

Voltando ao Eduardo Dussek, aquele Rock da Cachorra tem um verso que me chamou a atenção na época: “Troque seu cachorro por uma criança pobre. Sem parente, sem carinho, sem ramo, sem cobre. Deixe na história de sua vida uma notícia nobre”.

Lembro-me que na época chocou a muitos esta afirmação, tão cruel e verdadeira. Bob deve ser cuidado como um animal, como outros, criados por Deus. Somos responsáveis pela natureza de Deus e nem sempre cuidamos dela, pelo contrário, sempre a maltratamos. E isto é tão notório que a natureza maltratada se volta contra o ser humano. Afinal, o mesmo salmista declara que o ser humano é a coroa da criação, e Deus o fez inferior a ele mesmo, não para que fosse um “deus”, mas que tivesse autoridade sobre a Sua criação para cuidar dela. Portanto as pessoas estão acima dos animais.

Sendo assim, devemos cuidar ainda mais das pessoas. Amá-las, protegê-las, cuidar delas com mesma atenção e carinho que muitas vezes dedicamos aos nossos animais. Devemos começar ter estas atitudes em casa. Como igreja também precisamos valorizar os nossos irmãos nas suas necessidades físicas, emocionais e espirituais. Estamos todos caminhando para o início dos propósitos de Deus na criação: sermos semelhantes a Ele, por isso precisamos ser aperfeiçoados, para que sejamos novas criaturas em Cristo Jesus.

Os Bobs e as Fridas das nossas famílias continuem sendo cuidados por nós, mas que nós nunca esqueçamos de cuidar e amar àqueles que são realmente a nossa imagem e semelhança.

Por Roberto S. Feliciano Jr.